E quando a licença maternidade acaba? Uma história sobre acolhimento.
Lembro dos meus planos durante a gravidez, já pensando e me organizando para o ingresso do meu filho Jorge na escola. Minha intenção, naquela época, era de ficar com ele em casa até os três anos de idade e somente após este período levá-lo para a escola. Minha ideia estava baseada em estudos teóricos que comprovam o quanto benéfico é para uma criança poder estar em seu ambiente familiar por mais tempo, quando na primeira infância.
Porém, com um ano e seis meses de idade meu filho iniciou sua jornada em uma escola de educação infantil pois a nossa realidade, naquele momento, não nos permitiu seguir com os meus planos por vários motivos. Não foi nada fácil, pois junto desta situação também houve a retirada do aleitamento materno. Até os seis meses de idade Jorge se alimentou exclusivamente do meu leite. Após, gradativamente, comecei a introduzir outros alimentos e até um ano e seis meses ele seguiu com o leite, apenas como complemento.
Como eu tinha muito leite, eu queria seguir amamentando até mais tarde e eu percebia que para o Jorge estava tudo bem. Ele se alimentava muito bem e o leite era apenas em alguns momentos, principalmente na hora do soninho. Mas nesta época já não tomava mais leite durante a noite. Então estava tudo bem. E nós podíamos seguir assim. Mas, as opiniões sobre isso, de pessoas próximas a mim, eram muito contrárias e elas me venceram. Fiz então a retirada do leite e isso mexeu comigo durante muito tempo, provavelmente porque dentro de mim eu sabia que este não era o momento. Não era o meu momento e eu sofri muito com isso. Sofri sozinha, sem ninguém saber (até agora).
Sobre o ingresso do Jorginho na escola, o qual vivenciou sua primeira experiência em uma escola de Farroupilha, me lembro como se fosse hoje. Ele chegou, pequenininho e todo curioso e foi logo ao encontro das crianças que estavam lá, na sala que agora também seria sua. Uma profe muuuuuito carinhosa o recebeu, com cuidado e sem ser invasiva, explicou que ela estaria ali com ele para ajudá-lo, caso necessitasse. Jorge explorou tudo, correu de um lado para o outro com liberdade, foi visitar outras turmas, com crianças maiores (e a profe junto com ele) e de vez em quando dava uma olhadinha pra mim, com um sorriso no rosto como quem diz: “mamãe, isso aqui é muito show”.
Mas isso que estou relatando a vocês, sobre o primeiro dia dele na escola, não foi o que me contaram e sim o que eu vi, com meus próprios olhos. E é sobre isso que eu quero falar pois esta escola que eu havia escolhido, entre tantas outras, ganhou meu coração, não pela metodologia diferenciada (lembrando que sou Psicopedagoga), mas por me aceitar lá dentro, acompanhando de perto os primeiros dias do meu filho em outro ambiente, com outras pessoas, com outras crianças. Tudo era novo para ele e para mim também.
Dessa forma eu fiquei muito tranquila, pois fui acompanhando com meu olhar o desprendimento do meu filho, que pouco a pouco foi me dizendo, não com palavras, mas com suas atitudes, que estava tudo bem por aí, que ele estava gostando, se sentindo bem e que eu agora também poderia ficar bem, sem ele tão perto de mim. Ai, ai. E quando veio o choro, meu (porque o Jorge estava encantado com tanta novidade), fui acolhida pela diretora da escola, que apenas me deixou chorar e me disse que ficaria tudo bem. Me encorajou a aos poucos ir deixando o Jorge ali nesse novo ambiente e que se fosse necessário, me chamariam.
E, assim foi. Jorge construiu o seu caminho, e eu fui também reconstruindo o meu. E entre tantos desafios que enfrentei na minha maternidade, foi na primeira escola que o Jorge frequentou que, de fato encontrei acolhimento para eu ser a mãe do jeito que eu era, sem julgamento, sem imposição, respeitando o meu tempo e o tempo do meu filho. E pensando em como foi tão tranquila a adaptação do Jorge nesta escola, vale lembrar que houve acolhimento tanto para ele, quanto para mim.
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